O desastre da P-36-

Desastre em alto-mar (fonte Veja on-line)

Explosão na maior plataforma do mundo, responsável por 6% do petróleo brasileiro,
mancha a imagem da Petrobras e do país

Consuelo Dieguez e Marcelo Carneiro

Marco Antonio Teixeira/Ag. Globo

Um urubu pousou no ombro da Petrobras e nada consegue espantá-lo. Nos últimos quinze meses, a empresa viu-se envolvida em 95 acidentes, nos quais morreram dezoito pessoas. Como se não bastasse, desde o ano passado seus dutos foram responsáveis por quatro vazamentos gigantes, que despejaram 5,5 milhões de litros de óleo por lagoas, rios e baías. Na semana passada, essa onda de tragédias culminou com três explosões, que mataram dez pessoas, deixaram uma ferida gravemente e desativaram a maior plataforma do mundo em capacidade de produção de petróleo – a P-36, instalada na Bacia de Campos. Às 2 e meia da madrugada, a monumental construção, equivalente a um prédio de quarenta andares e à largura de um quarteirão, começou a adernar. Junto com ela, afundaram também os planos do Brasil de conseguir a tão perseguida auto-suficiência do petróleo em 2005. A P-36, que custou ao país 430 milhões de dólares, estava operando havia um ano no campo de Roncador, uma das áreas mais promissoras de produção da Bacia de Campos, de onde saem 90% do petróleo brasileiro. A Petrobras investira muito nessa plataforma. Com apenas um ano de utilização, ela já produzia 80.000 barris de petróleo por dia, cerca de 6% da produção nacional, hoje em torno de 1,3 milhão de barris diários. Até o fim do ano, a expectativa era de uma produção de 115.000 barris por dia. Atingiria sua capacidade máxima, de 150.000 barris, no final de 2002. A vitória já vinha sendo comemorada pelo governo. Desde que a plataforma começou a operar no campo de Roncador, em março do ano passado, o Brasil economizou em média 2 milhões de dólares ao dia em importação de petróleo. Uma receita alentadora para um país que enfrenta problemas em suas contas externas, provocados por um déficit inclemente na balança comercial e dívidas com os credores externos.

Agência Estado

Reichstul: na linha de frente de uma crise que atrasa metas de produção e obriga o país a importar mais petróleo


No dia seguinte ao desastre, já era possível fazer um cálculo preliminar do estrago. A estimativa é de que o país tenha um prejuízo de mais de 1 bilhão de dólares ao ano. Os analistas avaliam que a perda resultante da interrupção da produção de 80.000 barris de petróleo seja em torno de 600 milhões de dólares ao ano. Fora o mesmo tanto que terá de importar para cobrir o que deixa de ser produzido. O mais dramático nessa situação é que não há nada que possa ser feito para remediar a perda, pelo menos em um prazo de dois anos. Uma plataforma como a P-36, mesmo sem afundar, leva quase esse tempo para ser consertada. A construção de uma plataforma igual tomaria no mínimo três anos. "É um grande prejuízo para uma companhia que começa a enfrentar a concorrência estrangeira", afirma Jean-Paul Prates, diretor da Expetro, uma das mais conceituadas consultorias do setor de petróleo no país.

Bomba flutuante – Passavam vinte minutos da meia-noite de quinta-feira quando os 175 petroleiros embarcados na P-36 foram sacudidos por uma violenta explosão. A maioria já dormia e, embora acordar ao som de um estrondo seja uma situação assustadora, principalmente quando se está em cima de uma bomba flutuante, não houve pânico. Havia razões para a relativa tranqüilidade. O primeiro alarme sonoro indicava situação sob controle. Naquele momento, cinco homens da bem treinada brigada de incêndio da estatal já corriam para tentar debelar o fogo que ardia em um dos pilares de sustentação da plataforma pelos quais passam os tubos de gás e óleo. Ainda assim, como rezam as normas de segurança, todos os embarcados deixaram as cabines e seguiram para as salas de segurança. Meia hora depois, porém, eles estariam vivendo num inferno. Faltando dez minutos para 1 hora da madrugada, nova explosão. Foi tão intensa que derrubou tetos, deformou os camarotes e levantou até o piso do convés. A partir daí, seguiram-se cenas de terror. Uma segunda equipe de incêndio desceu para ajudar o primeiro grupo e encontrou os companheiros mortos. Mas, ao tentar fazer o salvamento, foi também dizimada por uma terceira detonação. Num ato de extrema coragem, uma outra equipe de socorro desceu para o local do incêndio.

 

Flavio Ciro

Agosto de 1984: vazamento de gás na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro

O que esses homens viram foi pavoroso. Os dez petroleiros das brigadas de incêndio estavam mortos. Seus corpos, estraçalhados. Descobriu-se, naquele momento, que não havia mais nada a fazer. Nem a equipe de incêndio, que havia vinte anos não perdia um homem em acidentes nas plataformas, teria condições de enfrentar a situação. O vazamento de gás era grande demais. O controle do fogo exigiria a utilização de navios de combate a incêndio no mar, que levariam tempo para chegar ao local. Foi então acionada a sirene contínua e estridente chamada de shut down 4 no jargão técnico dos petroleiros, que significa a ordem de abandonar a plataforma. Enquanto parte da equipe fechava os dutos e bombas para evitar novos focos de incêndio e vazamento de óleo no mar, outro grupo tratava de evacuar os embarcados. Vinte minutos depois, os petroleiros começaram a ser transferidos de navio para a P-47, uma plataforma a 12 quilômetros dali. O operador de produção Sergio Santos Barbosa, com 98% do corpo queimado, foi transportado de helicóptero para um hospital no Rio de Janeiro. Acordado com a notícia no início da madrugada de quinta-feira, o presidente da Petrobras, Henri Philippe Reichstul, seguiu, na mesma hora, com a direção da estatal para Macaé, no norte fluminense, junto à Bacia de Campos. Foi o pior acidente em plataforma de petróleo no país desde 1984, quando uma explosão na plataforma de Enchova, também na Bacia de Campos, deixou o trágico saldo de 37 mortos.

Perda estrondosa – No momento, a única coisa que resta à Petrobras é acionar o seguro da plataforma, avaliada em 500 milhões de dólares. Mas não há contrato que cubra o prejuízo com a paralisação da produção. A direção da companhia tenta minimizar as perdas. "Os 50 milhões de dólares mensais que deixarão de entrar na empresa representam relativamente pouco quando se consideram os 27 bilhões de dólares do nosso faturamento anual", diz o diretor financeiro da estatal, Ronnie Vaz Moreira. Se, no entanto, para o caixa da Petrobras a quantia parece não fazer tanta diferença assim, para o país é uma perda estrondosa. Logo que foram anunciados o acidente e a extensão do estrago, as ações da companhia nas bolsas de valores despencaram no Brasil e em Nova York. O dólar, que já vinha pressionado pela crise argentina e pelo temor de recessão nas principais economias do mundo, teve uma nova alta. Isso obrigou o Banco Central a intervir. Vendeu dólares de suas reservas, para tentar conter a subida. Além disso, perder produção num momento em que os preços do petróleo voltam a subir no mercado internacional é um prejuízo que o país não podia dar-se ao luxo de sofrer.

O acidente na P-36 também chamou a atenção para uma questão que vem sendo insistentemente discutida pelos funcionários, depois de tantos acidentes: a segurança. Na briga entrou até o Ministério Público do Trabalho, que acusa a Petrobras de negligenciar o controle da contratação de mão-de-obra terceirizada. Desde 1995, a companhia iniciou um processo de incentivo a aposentadorias e demissões, passando a contratar mão-de-obra terceirizada para várias funções. O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Fernando Siqueira, aponta como o maior problema a baixa qualificação das empreiteiras que trabalham com a companhia. "Nos Estados Unidos, eles trabalham com terceirizados de empresas de ponta. Aqui, a contratação é aberta para qualquer empresinha de fundo de quintal", protesta. A própria Petrobras reconhece que precisa dar melhor treinamento ao pessoal terceirizado. E a Agência Nacional de Petróleo (ANP), uma semana antes do acidente com a P-36, já tinha dado um puxão de orelhas na empresa nesse sentido. Mas no caso específico da explosão na Bacia de Campos não há indícios de que problemas de treinamento de terceirizados tenham provocado a tragédia.

O engenheiro Segen Estefen, diretor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, levanta a hipótese de erro no projeto da plataforma. A P-36 foi encomendada na gestão de Joel Rennó, que comandou a Petrobras entre 1992 e 1999, e sempre esteve envolta em polêmica e acusações de favorecimento. O empresário que ganhou a licitação contratou a obra num estaleiro italiano que faliu. O projeto foi transferido para o Canadá e modificado por outro estaleiro. Desde 1980, quando uma plataforma da Noruega afundou no Mar do Norte, as plataformas têm de obedecer a especificações para evitar que explosões resultem em afundamento. Suspeita-se que a P-36 não esteja dentro dessas normas. Só as investigações vão dizer o que realmente aconteceu na madrugada de quinta-feira passada. Por isso, a Petrobras recusa-se a se manifestar sobre possíveis causas da tragédia. O que não se pode esquecer é que controles mais rigorosos podem ajudar a evitar desastres. "Para cada acidente grave, existem dez de menor relevância", afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança, Reynaldo Barros. Só no ano passado, três plataformas tiveram incêndios debelados. O erro da Petrobras pode ter sido não tirar desses incidentes as lições necessárias para evitar uma grande tragédia.

 

Como foi o acidente que, na última quinta-feira, matou dez pessoas e danificou a P-36, uma plataforma flutuante de extração de petróleo avaliada em 1 bilhão de reais, ancorada a 120 quilômetros da costa do Rio de Janeiro

O LOCAL

O ACIDENTE

0h20
Um vazamento de gás na coluna de sustentação provoca uma explosão seguida de incêndio. A primeira brigada de incêndio é acionada.

0h50
A brigada é surpreendida por uma segunda explosão. Os cinco integrantes morrem. A segunda brigada entra em ação. Uma terceira explosão acontece em seguida e mata os outros cinco encarregados de debelar o fogo.

Uma brigada de socorristas é acionada. Resgata o corpo de um dos membros da brigada de incêndio e retira do local do acidente o operador Sergio Santos Barbosa. Um helicóptero-ambulância leva Barbosa para o hospital da Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro.

Simultaneamente, tem início a operação de retirada da tripulação da plataforma P-36 dentro de cestas carregadas por guindastes e transportados para a plataforma P-47, a 12 quilômetros da P-36, em navios-sonda e rebocadores.

Permanecem na plataforma 24 homens em funções de controle. Concluída a operação, é realizada uma chamada.

Dez homens não respondem e são considerados desaparecidos. Doze navios são deslocados para apagar o fogo.

7h
A P-36 começa a adernar, mostrando problemas de sustentação. Os últimos homens que permanecem na plataforma são resgatados para a P-47.

20h
A empresa interrompe as buscas aos desaparecidos até a manhã do dia seguinte.

 

A PLATAFORMA

A P-36 era a maior plataforma de petróleo do mundo em capacidade de produção.

Com 112 metros de comprimento e 95 de largura, tem o tamanho de um campo de futebol.

Seus 119 metros de altura equivalem a três estátuas do Cristo Redentor.

Produzia 80 000 barris de petróleo por dia , 6% da produção brasileira e 1,3 milhão de metros cúbicos de gás natural por dia,quase a quantidade diária consumida no Estado do Rio de Janeiro.

 

COMO É FEITA A PRODUÇÃO NA PLATAFORMA

Flutuando no oceano numa área com profundidade de 1 360 metros, a plataforma P-36 fica ancorada. Através de tubulações, recebe petróleo e gás natural dos 21 poços submersos. Depois de processado e tratado, o petróleo é transferido para um reservatório flutuante, a P-47, que armazena os combustíveis e os repassa aos transportadores

Sepultados no fundo do mar

A Petrobras mergulha em suspeitas
de negligência na tragédia da P-36

Consuelo Dieguez e Marcelo Carneiro -Fonte VEJA ON-LINE

 

Fotos divulgação
A plataforma P-36 inclinada em 30 graus e afundando na bacia de Campos

 

Resgate impossível

Das onze famílias que perderam parentes na explosão da P-36, apenas duas puderam enterrar seus mortos. As outras nove tiveram de se conformar com o sobrevôo da área onde a plataforma afundou. A Petrobras considera impossível recuperar os corpos que estão submersos, devido à grande profundidade e ao tempo que já se passou desde o acidente.

Laerson Antônio dos Santos, 40 anos, casado, três filhos, operador Luciano Cardoso Souza, 46, casado, quatro filhos, operador Mário Sérgio Matheus, 40, casado, três filhos, técnico de segurança Geraldo Magela Gonçalves, 41, casado, dois filhos, técnico de segurança Adilson Almeida de Oliveira, 33, casado, sem filhos, operador
Emanoel Portela Lima, 40, casado, dois filhos, operador Ernesto de Azevedo Couto, 43, casado, três filhos, operador Josevaldo Dias de Souza, 38, casado, dois filhos, operador Charles Roberto de Oliveira, 34, casado, dois filhos, auxiliar de plataforma
Só dois enterrados
Sérgio dos Santos Sousa, 34, casado, um filho, mecânico Sérgio Santos Barbosa, 41, casado, três filhos, operador de produção

Poucas vezes o país assistiu ao vivo a imagens tão dramáticas quanto a do afundamento da maior plataforma de petróleo do mundo. Na terça-feira passada, terminaram as esperanças de salvar a P-36. Ela foi a pique carregando, presos às suas ferragens, os corpos estraçalhados de nove dos onze petroleiros que morreram ao tentar controlar o fogo. Parecia impossível dar dimensão ainda mais trágica ao caso. Mas na última quinta-feira, uma semana depois do acidente de Macaé, a história ganhou novo rumo com a divulgação de uma surpreendente informação que pode ser o elo que faltava para explicar o desastre. Nos três dias que antecederam as explosões da madrugada do dia 15, três boletins enviados pelo comando da P-36 à base de operação em terra avisavam sobre a ocorrência de problemas no sistema de ventilação da plataforma. A causa provável seria o entupimento do abafador de chamas. O equipamento, alertavam os informes, teria de ser substituído. Isso exigiria uma parada na produção, pois estava ele muito próximo dos queimadores de gás da torre. Menos de 24 horas após o derradeiro aviso, a monumental construção sofreu a explosão e adernou, afundando completamente cinco dias mais tarde.

A descoberta desses boletins pode evidenciar não só as causas do acidente. Pode também expor o que parece ser um sinal de descontrole da direção da Petrobras sobre a empresa. Na última quinta-feira, o presidente da estatal, Henri Philippe Reichstul, foi apanhado de surpresa pela notícia. Na verdade, ela só veio à tona porque a Federação Única dos Petroleiros (FUP) entrou em contato com um diretor da Petrobras informando que não estava conseguindo obter cópias dos boletins diários de operação expedidos antes da explosão da P-36. A FUP reclamava ainda que o sistema on-line das operações da plataforma estava fora do ar. Alertava, porém, para a existência de cópias extra-oficiais dos boletins circulando entre a categoria. A informação foi repassada ao diretor de produção e exploração da Petrobras, José Coutinho Barbosa, que prontamente entrou em contato com Carlos Bellot, gerente-geral da estatal na Bacia de Campos. Bellot confirmou que havia tirado o sistema do ar para preservar as informações.

A Petrobras fez então o que já deveria ter sido feito logo no primeiro dia do acidente. Convocou os gerentes da plataforma no mar e em terra para explicar o que havia acontecido nos dias que antecederam o desastre. Mas já era tarde. O constrangimento estava criado. Como era possível a direção da Petrobras desconhecer a informação de que problemas técnicos na P-36 iriam interromper a produção de 80.000 barris de petróleo por dia? É certo que o boletim não bancava ser necessário parar imediatamente, e sim só quando o abafador fosse trocado, o que parece significar que os controladores da operação não viam risco aos petroleiros embarcados. É certo também que, em caso de perigo, o gerente da plataforma tem autonomia para sustar a produção. O que não faz sentido é uma informação de tal calibre, que fatalmente traria prejuízos à empresa e ao país e que pode ter resultado na morte de onze pessoas, encalhar no terceiro escalão da companhia.

 

Não faltou aviso

Em 12 de março, três dias antes da explosão da P-36, um boletim relata problema no abafador de chamas, peça que impede que o gás retorne para a tubulação: "Estamos com pressurização no sistema de vent (sic) da plataforma. Provável causa é o entupimento do abafador de chamas. Estamos providenciando-o para compra. Será necessário parada de produção para substituição"

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Existe uma hierarquia muita clara na Petrobras: se os gerentes da plataforma deram o alerta, a informação deveria ter alcançado o comando da empresa. Se isso não ocorreu, houve insubordinação da gerência ou leniência da direção. Somente na manhã de quinta-feira Reichstul foi avisado do que se sucedera. Tantas trapalhadas podem ser parcialmente explicadas pelo clima beligerante que impera na diretoria da Petrobras. Vários diretores não se falam e dividem-se em grupos, boa parte deles conspirando contra o próprio Reichstul – que, reservadamente, afirma possuir apenas três diretores de sua inteira confiança na estatal.

Panela de pressão – Nos dias 12 e 13 – portanto, poucos dias antes da tragédia –, o petroleiro Hélio Galvão chamou a atenção para um problema de "pressurização no vent da plataforma". Em linguagem leiga, isso significa que estava ocorrendo um aumento da pressão interna nos vasos de uma das colunas de sustentação da plataforma. Ou seja, aumento de pressão num setor por onde passam gases. No dia 14, véspera das explosões, o supervisor Paulo Vianna alertava para a mesma situação. O problema da plataforma seria semelhante ao de uma panela de pressão com defeito na válvula – no caso, o abafador de chamas, o tal equipamento que teria de ser trocado. Sem ter por onde expelir vapor, a panela explodiria. É o que parece ter acontecido com a P-36, embora até a noite de sexta-feira não tivesse sido concluído o laudo sobre o acidente.

Ag. Estado
Reichstul: desinformado sobre os boletins da P-36

 

 

 

 

 

 




 


As conseqüências do atestado de incompetência que a diretoria da Petrobras passou ao revelar que desconhecia os boletins podem ser muito mais graves do que a simples exposição de suas fragilidades. Um exemplo: as seguradoras, ávidas para se livrar do prejuízo de cobrir um seguro de 500 milhões de dólares, podem alegar que, se a Petrobras sabia do problema e não avisou a seguradora, teria havido quebra de contrato. A atual gestão da Petrobras está pagando também pelos erros da anterior. A maioria dos contratos assinados, inclusive o da P-36, estão envoltos em suspeitas de favorecimento. Isso tem servido de argumento para algumas seguradoras não pagarem seguros devidos. É o caso de duas plataformas construídas pelo estaleiro Verolme-Ishibrás e entregues com atraso à Petrobras, que agora cobra um prejuízo de 300 milhões. A seguradora alegou corrupção para tentar dar o calote.

Os sindicalistas, por outro lado, acusam a companhia de estar abrindo mão da segurança para atingir metas de produção muito elevadas. Esse risco está exposto em um dos boletins agora descobertos. Ele mostra, por exemplo, que o petroleiro Hélio Galvão respondeu tanto pela coordenação da plataforma quanto pela supervisão da produção no dia 11, quatro dias antes das explosões. Nos dias seguintes, eram dois petroleiros se ocupando dessas funções. Fica claro que há algo errado. O silêncio tumular da Agência Nacional de Petróleo (ANP) no episódio é também surpreendente. O presidente da Petrobras pode não ter amigos na estatal, mas mantém uma amizade de longa data com David Zylbersztajn, presidente da agência. Tanto que na semana passada, quando a ANP deveria estar cobrando as causas do acidente, os dois jantaram juntos na casa de Zylbersztajn. A ANP, órgão fiscalizador das empresas de petróleo e energia, está muito tímida na exigência de explicações da companhia sobre o ocorrido. O laudo sobre as causas da explosão só estará concluído no final de abril. Mas certamente a história do afundamento da P-36 ganhou um ingrediente que a torna ainda mais revoltante, principalmente para as famílias dos mortos: a suspeita crescente de que a tragédia poderia ter sido evitada.

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